domingo, 27 de dezembro de 2009

Zoropa: a Odisséia: Porto - Impressões, Kebab e Constatações

Chegamos a Madrid por volta das 7:30, hora local, 4:30, mais ou menos, no Brasil. Era só uma escala, mas havíamos chegado a Europa.
O aeroporto de Barajas, o principal da cidade, é lindo.

Tudo é vítreo, e as ousadas linhas curvas do teto ganham ares de profundidade oceânica quando refletidas no chão de espelhos.

As janelas, na verdade, portões interdimensionais, mostram o complexo ir e vir dos milhares de aviões que aterrisam e decolam numa elipse que parte do aeroporto para os confins do universo.

Logo de cara, ao sair do avião, entramos naquilo que chamamos de trem-bala.

Era um dos muitos trens subterrâneos que compôem o emaranhado de caminhos do Barajas. Minutos depois, a uma velocidade razoável, estávamos às voltas do Portão K, onde faríamos a conexão para Oporto, como dizem os espanhóis.

É engraçado - provavelmentte por nossa inexperiência - mas as setas que indicam que se deve seguir adiante, apontam pra baixo (pro subsolo, seria mais correto...) e não para cima como no Brasil. Em outras palavras, subimos de elevador até o piso -1, vimos a indicação para o Portão K, descemos a escada rolante à nossa frente e, bingo! demos de cara com o mesmo elevador por onde havíamos subido.

Até percebermos a cagada, já havíamos feito o trajeto quatro ou cinco vezes... Tá, tá bom, não somos os melhores exemplos da inteligência humana..., mas faltando meia hora para a conexão, chegamos a La Imigracíon.


Não vimos a besta-fera de trinta e cinco olhos e cento e cinquenta braços de que as pessoas nos haviam falado. Evidentemente, precavidos que somos (leia-se: A Isis é precavida), levamos todas as passagens e reservas de albergues bem à mostra em uma pastinha transparente e cruzamos a fronteiira do infinto com direito a piadinhas amistosas da agente da imigração. O fato de estarmos em grupo facilitou bastante pois, vários viajantes solitários estavam sendo barrados e levados a um quarto anexo onde lhes arrancavam partes do braços, tiras de carne de dez centímetros de largura de suas costas, e cortavam-lhes as falanges de todos os dedos médios... Uma cena horrível de se ver, mas merecida, já que todos somos suspeitos quando estamos sozinhos.
No piso do Portão K, cem ou cento e cinquenta metros da entrada K98, escutei a voz de Deus dizendo: Atenção fumadores: respeitem os que não fumam e encaminhem-se para a área dos fumadores. Pensei comigo: quem sairia pra fumar nesse frio? (12 graus quando desembarcamos), até que tive uma epifania visual quando vi a área dos fumadores.

Um cubículo de vidro, com portas hermétiicas, de pouco mais de quatro metros quadrados, bem no meio do corredor, onde os fumantes se transformavam em sacos transparentes (valeu Nelson!), repletos de dióxido de carbono e chumbo e, sôfregos, se espremiam entre baforadas e os olhares dos que passavam. Primeiro mundo é outtra coisa.
Embarcamos para Oporto às nove e meia e, por conta do fuso, chegamos às nove e trinta e cinco. Uma hora e cinco de vôo, para ser mais preciso. Podiam ser trinta e não faria a menor diferença, já que dormi tudo o que não tinha dormido no vôo anterior, de nove horas de Guarulhos a Madrid.
Chegamos ao Porto e após uma espera de intermináveis vinte minutos pela mala despachada, passamos pela imigração sem dificuldade alguma (o grupo, lembra?), e, como na Espanha, os que estavam sozinhos eram levados a uma sala secreta, só que dessa vez lhes serviam pasteizinhos de Belém ao molho de Bacalhau e vinho do Porto. Isso após uma surra e vários caldos de autoclismo.


Saindo do aeroporto, tivemos nossa primeira injeção de primeiromundidade: para embaracar no metrô, não há uma única catraca e os bilhetes são comprados em postos da Andante, onde o vendedor mui gentilmente explica o sistema tarifário e sugere a melhor opção de economia na compra dos bilhetes. Se não há catracas, como se faz para embaracar?, os mais ansiosos se remoem. Explico: nas entradas e plataformas de todos as estações de metrô há uma maquininha quadrada e amarela - igual as que são usadas nos ônibus de São Paulo - onde, pasmem, os cidadãos encostam seus bilhetes e se libertam dos grilhões da catraca!


É o verdadeiro sentido das descatracalização. Não há cães-de-guarda, tampouco guardas-cães, em volta dos validadores e, em muitas estações, o metro de apenas três vagões, passa no mesmo nível das ruas e as pessoas só precisam subir à guia para por os pés na plataforma e validar seus bilhetes. S-U-R-R-E-A-L!. A úniica menção que vimos a respeito dos que não pagam passagem, foi a imagem antropomórfica e meio pierrolizada, em um cartaz, de uma multa que chega à casa dos que se esquecem de validar. Só.
Não se trata de marketing agressivo, tanto que nas quinze estações por onde passamos desde o aeroporto até a estação Bolhão, vimos apenas dois ou três cartazes com a foto da tal multa. Viva a descatracalização, viva o lulês, viva Brasil, rá, rá, rá! (tá... eu sei que não ficou bom, eu sei!!!).
E não é só isso, do lado externo há botões que servem para abrir as portas do metro, ou seja, com o frio que faz, as pessoas que já estão dentro do metro não precisam sentir como se tivéssem aberto a porta de um freezer ao seu lado. Fora que o tempo para embarque é três vezes maior do que em São Paulo e nas estações onde ninguém embarca, as portas abrem graças a um sensor ou câmera para aqueles que vão descer. Descatracalização já!
Chegando ao metro Bolhão, logo encontramos a Santa Catarina, a rua do Hotel América Porto, onde ficaríamos hospedados pelos próximos quatro dias.

Muitos, muitos metros depois, caminhando pela Santa - um misto de Oscar Freire com 25 de Março - avistamos a Capela das Almas, uma igreja totalmente forrada de azulejos, advinhem, portugueses que contam a partes da vida de São Francisco. Linda e funcional, já que ainda são celebradas missas diárias lá.

Para nossa surpresa, o hotel não era de quinta, como o seu preço sugeria (13,75 euros) e sim um lugar ducarai, limpo, muito bem decorado, espaçoso e bem localizado (dez minutos a pé do centro histórico do Porto), TV, banheiro no quarto - privativo - e o melhor de tudo: com um café da manhã que promete!

Isis e Isadora não acharam o staff muito atencioso, ou educado, Carlos não se manifestou e eu achei o pessoal europeu o suficiente para não ser brasileiro. Mas, foda-se. Estamos na Europa, num hotel pequeno, porém bacaníssimo, e por um preço de yes, nós temos bananas!.
Devidamente instalados, liguei a TV para saber o que prende as bundas portuguesas ao sofá e assisti a um programa chamado Lei Animal, no qual humanos competiam com animais nas mais estapafúrdias provas de resistência, velocidade, força e de comer salsicha (lá ele!), como o japonês que disputou contra um urso canadense de 350kG e, claro, perdeu. A disputa mais interessante de todas, foi um elefante contra quarenta anões. O objetivo: puxar um avião Jumbo. Infelizemente não vi o final, pois o Porto nos aguardava tal qual uma puta, esperando o ordenado da noite. Além disso, estávamos azuis de fome. Mas não tão azuis quanto o homem que vimos em um banco na saída do metro...

Duas da tarde saímos para sacar os arredores e descobrimos, na própria Santa Catarina, dois mercadinhos, uma loja de cosméticos-farmácia-bodega-vendinha-shopping 25, um restaurante japonês (11 euros o rodízio de sushi: jamais comeremos lá, nunca!), várias lojas de roupa, artigos de segunda mão para pessoas de primeira classe, e uma infinidade de bugigangas. O que é, no mínimo rísivel, é que mesmo nos mercados, restaurantes e afins, a comida é expostas nas vitrines como se fossem sapatos ou bolsas.
No fim das contas acabamos comendo em uma espécie de padaria, próxima ao mercado do Bolhão, onde uma sopa de legumes bem servida custa 1,10 euros, e todos os outros pratos não passam de 5 euros.
Pedimos três Escalopes, que são bifes de carne de porco à milanesa (2,80 euros cada) e um Tripas a Moda do Porto (3,20 euros): uma mini-dobradinha com feijão branco e tudo, que beleza!
No Bolhão, o mercado municipal, há a maior variedade de grãos, cereais, frutas cirstalizadas e flores que eu já vi. O que chama a atenção são os doces à base de nozes ou cerejas frescas (entre 1 e 3 euros).


Depois do Bolhão pegamos uma chuva considerável e, acreditem, não é nada legal com a temperatura de oito graus. Corremos pro hotel para nos prooteger e acabamos dormindo cerca de cem anos.
À noite, deseperados e famintos, descobrimos, na Santa, uma espécie de galeria onde havia alguns butecos bem fuleiros ao fundo, lojas de roupa e salões de beleza: todos especializados no público negro. Tanto que àquela hora só se via negros lá.
Bom, não era um lugar muito amistoso, mas nada que a vivência nas bibocas de Guaianases, Cidade Tiradentes, Glicério, República e outros guetos de São Paulo não me tenha preparado pra ver.
O rapaz que nos atendeu disse que a única coisa para comer era a feiijoada de Cabo Verde (pertences de porco com feijão verde ou branco), e logo entendemos porquê eram todos negros ali. Só não entendemos porquê não os tínhamos visto em outros lugares ou horários... Primeiro mundo...
Fomos embora pois ninguém queria comer feijoada àquela hora e, confesso que jamais esquecerei os olhos do rapaz atrás do balcão me dizendo: podem ir, os brancos, dificilmente ficam aqui depois de perceberem onde estão... Me senti tão mal com aquilo que na rua seguinte perdi um dos olhos, as duas orelhas, um braço, o fígado, um rim e o pulmão... eu sou de todos os guetos, quem me conhece sabe.
No final da rua e ainda sem comer nada, vimos a monumental igreja de Santo Ildefonso, cuja fachada também é forrada de azulejos portugueses representanndo passagens da vida desse santo.


Um pouco mais à direita vimos a praça da Batalha, onde havia várias cadeira dispostas em círculo e não bancos de frente para o nada. E lá encontramos A Caxemira, um butecquinho turco - o único aberto na região do centro àquela hora - frequentado por notívagos, noctâmbulos, hematófagos, licanos, ticanos e toda a escória estrangeira como brasileiros, cabo-verdenses e indianos.

O turco que nos atendeu, falava tão bem o português que duvidei que fosse mesmo da turquia e nos tratou como se fossémos seus netinhos.


Finalmente descobrimos o Kebab, ou Kebap, de que tantos ouvimos falar nas comunidades da internet. 3,50 euros por fatias de kafta, cebola, tomate e cream cheese num pão sírio do diâmetro de um prato!Duca!
Enquanto comíamos, vimos a primeira cena realmente esquisita: um indiano, encostado no balcão, nitidamennte ébrio, caiu após um balé assassino que quase arrancoou a cabeça da Isis com o pé. Mal tocou o chão e o avozinho turco o socorreu, conduziu-o escada e nunca mais se ouviu falar do indiano. Enquanto isso, uma cabo-verdense, ébria, pagava a conta pela terceira vez e pela terceira vez pedia mais um copo de vinho.Saímos com a promessa de voltar no dia seguinte e uma legião de amigos.

Mais algumas horas pelas ruas, alguns turistas brasileiros tão espantados como nós com a falta de pessoas nas ruas (era véspera de Natal!), um gato vindo do inferno sobre um holofote e fomos dormir por voltta dfas três da manhã. Exaustos.





3 comentários:

  1. Adorei isto

    " O fato de estarmos em grupo facilitou bastante pois, vários viajantes solitários estavam sendo barrados e levados a um quarto anexo onde lhes arrancavam partes do braços, tiras de carne de dez centímetros de largura de suas costas, e cortavam-lhes as falanges de todos os dedos médios... Uma cena horrível de se ver, mas merecida, já que todos somos suspeitos quando estamos sozinhos."

    Abarasssssos

    Brontops

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  2. Devorando os relatos, torço o bucho de riso, imaginando o sujeito envolto pela fumaça na capsula de nicotina do aeroporto, pelo protesto-apelo-inveja qnto ao metro de bacana, rápido e espaçoso sem aperto-sovaco-fedido além da ausência das catracas(prática impossível perante a carteira vazia de reais e a malemolência brasileira).A sala de tortura (hahiuahiuah), o "yes, nós temos bananas"... sigo no rastro. Degustem e explorem, assim como estes fizeram e fazem conosco.

    Desejo a voçês muitíssima paz, tranquilidade pela viajem, amor, e luz nesse ano que chega a nossas vidas.

    Axé meus caros!

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  3. MEUS CAROS ANTES DE SE VIAJAR DEVEREMOS INFORMAR-NOS DOS LOCAIS VCS ESTIVERAM NO CENTRO DO PORTO CHAMADA A BAIXA DA CIDADE POIS QUE VIVE DO DIA OU SEJA DO COMERCIA A NOITE É UM DESERTO MAS A 1KM OU 2KM TÊM A RIBEIRA ONDE TEM RESTAURANTES BARES AO IREM A BATALHA ERA SÓ DESCER E AI VIVIRIAM A NOITE DO PORTO E PASSANDO A PONTE TINHAM O CAIS DE GAI QUE É A ZONA TAMBEM DE RESTAURANTES E BARES E PARA COMER BEM PEIXE SERIA A ZONA DE MATOSINHOS, POR ISSO TERIAM QUE PROCURAR. QUANTO A VESPERA DE NATAL AQUI O NATAL É PARA FAMILIA ESTAR EM CASA A BEBER VINHO E A LAREIRA

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